POR DANIEL GOMES

IN LOCO

Foi no dia 22 de Novembro que o autor checo e teólogo católico Tomáš Halík deu uma sessão de autógrafos para o seu mais recente livro, Diante de Ti, Os Meus Caminhos,  numa pequena livraria em Lisboa. Até lá, o meu conhecimento deste ilustre autor era quase inexistente: eu sabia que ele era um autor católico popular entre os círculos evangélicos portugueses, o que não é algo comum, e que a nossa revista tinha abordado previamente três das suas obras traduzidas para português pela Paulinas Editora: A Noite do Confessor, O Meu Deus é Um Deus Ferido, e Quero Que Tu Sejas. Ele também nos fez a cortesia de assinar um retrato dele feito por um dos nossos colaboradores, o talentoso artista Vitor Marini.
Mas além disso, não sabia o que esperar. Entrei na livraria nessa tarde de Quinta-feira e viu-o em pessoa pela primeira vez: ele estava sentado em frente a uma mesa à entrada da livraria, falando normalmente com algumas senhoras que, provavelmente, também estavam lá para o ver a ele. Nada sobre ele se destacava – e no entanto, isso era  precisamente o que se destacava em relação a ele. Ele estava vestido “à civil,” sem qualquer sinal de pompa eclesiástica. O seu “comité”, pelo que pude observar, consistia apenas de uma senhora muito simpática que desempenhava a função de tradutora. Foi interessante ver um autor estrangeiro tão aclamado pela nossa audiência desta forma, de perto e pessoalmente.
Na nossa breve troca de palavras, Halík foi sempre simpático e compreensivo, apesar de parecer algo fatigado. Ele assinou a minha cópia do livro com um sorriso na sua face, e a impressão que deixou em mim foi melhor do que podia ter esperado. Ainda assim, eu saí  da livraria sem saber nada sobre ele, sobre o seu passado, as suas lutas e os seus feitos. Para mim, ele ainda era apenas “um autor fixe de se conhecer”.
Após ler a sua biografia, eu tenho agora um entendimento muito maior do homem que  conheci naquele dia. Agora percebo que naquela Quinta-feira, naquela livraria das Paulinas, e apenas por alguns minutos, eu estava perante um ícone do Cristianismo moderno. A história de Tomáš Halík, como ele escreve nesta mais recente obra, está profundamente ligada à história da Boémia dos dias de hoje, um passado de opressão que ele ajudou a transformar num presente de liberdade e de recetividade.
Neste livro, Halík apresenta-nos a sua vida, desde a sua tenra infância na Checoslováquia até à sua presente atividade, incluindo a sua primeira visita a Lisboa com o apoio das Paulinas. Halík descreve em detalhe minucioso a opressão do regime comunista soviético em que cresceu, como ele veio a conhecer Cristo e se tornou um membro da Igreja Católica clandestina no seu país. Com uma coragem reminiscente dos Pais da Igreja, Halík tornou-se num dos grandes dissidentes da região da Boémia, trabalhando perto de grandes nomes da oposição ao regime como Václav Havel. Com o passar dos anos, a sua coragem e intelecto ajudaram-no a enfrentar a perseguição pela polícia secreta e a assistir milhares de pessoas na recuperação de vícios e dependências fatais para as suas vidas.

“Bati no fundo, e eis que era precisamente ali que Deus estava.”
– Tomáš Halík

Desde as Revoluções de 1989, Tomáš Halík continua a trabalhar arduamente no  crescimento da Igreja, tanto no seu país natal como no estrangeiro. Ele enfatiza a importância vital de uma aceitação e respeito mútuos entre as várias denominações da fé cristã e a necessidade de procurar o diálogo inter-religioso. Embora continue a ser um professor catedrático em Praga, ele ainda arranja tempo para viajar o mundo e para escrever. Assim, não admira que o encontremos um pouco cansado numa sessão de
autógrafos, numa livraria em Lisboa; ele continua a perseverar nos muitos caminhos que Deus lhe confiou, a forjar um legado que transforma vidas – com este novo livro a lhe servir de testemunho fiel e inspirador.