Pr. Carlos Fontes entrevistado por Paulo Sérgio Gomes
Foi no aprazível complexo do MEIB, Monte Esperança Instituto Bíblico, onde lecciona Teologia, que o Pr. Carlos Fontes acolheu a BIBLION para uma entrevista. Depois de uma gratificante experiência como blogger, onde já partilhou centenas de pensamentos e meditações, partiu para a tarefa de compilar toda a informação em livro. Assim nasceu o mais recente lançamento da Editora NA, O Antigo Testamento Hoje, uma obra acessível a leigos, como o autor faz questão de referir, mas não deixando de aprofundar os temas mais importantes do Livro Sagrado.
BIBLION: A ideia nasceu de um blogue online. Quando sentiu que fazia sentido avançar para o livro físico?
CARLOS FONTES: Exatamente, partiu de um blog. Primeiro, a CAPU demonstrou interesse, através da Diretora de Publicações, Ana Ramalho, que foi minha aluna e já me conhecia. Através de alguns artigos que escrevi para a Revista “Novas de Alegria”, foi percebendo que eu poderia dar algum contributo em termos de doutrina, de teologia. Também lhe chegou ao conhecimento que eu tinha um blogue, inclusive algumas dessas minhas meditações, já foram publicadas na revista. Também o Pr. António Gonçalves manifestou interesse, pois gostaria de ver mais autores portugueses a escreverem.
A outra razão, foi que eu próprio fui arrastado para isto, ao aperceber-me pelo input dos leitores, ao serem feitas perguntas, e dando as respostas, comecei a ter feedback que aqueles pensamentos estavam a ser úteis. Então, pensei que, sendo em livro, poderia chegar a muitas mais pessoas.
B: Nesta edição, selecionou textos do Antigo Testamento. De que forma está segmentado?
CF: Fui selecionando um conjunto de meditações sobre o Antigo e o Novo Testamento. A maior parte do Antigo, e percebi que para colocar uma ideia completa, seria melhor começar pelos do Antigo Testamento que foram selecionados cronologicamente.
Acabei construindo mais alguns e fiquei com 114. Textos, versículos, pensamentos, terminando o ciclo do Antigo Testamento, e ainda fiquei com muito material para o Novo
B: No futuro, podemos esperar uma réplica do livro, incidindo sobre o Novo Testamento?
CF: Quem sabe, no futuro. Já existe muito material, mas o Novo Testamento é muito exaustivo, tem de ter um tratamento totalmente distinto. E teremos de ver o feedback dos leitores.
B: Tem uma linguagem acessível, a quem se destina? Ao leitor conhecedor, ao principiante na leitura da Bíblia, ou até mesmo aqueles que não conhecem a Palavra de Deus?
CF: Uma boa pergunta. Sou um teólogo, e faço questão da doutrina. Alguns pensamentos são autênticos estudos bíblicos, por vezes de forma mais profunda, mas sempre pensando que o meu público, por ser um blogue, não conhece muito a Bíblia. Fui percebendo isso pelo feedback. Portanto, ia dando ali umas “pinceladas”, para principiantes (alguns chegaram a dizer que iam comprar a Bíblia!), e de vez em quando dava alguma ênfase doutrinária.
Isto é diferente da minha experiência. Tenho muito trabalho desenvolvido, mas de material académico, para o ensino. O blogue obrigou-me a despir do que sou, um teólogo.
B: Teve debates, troca de opiniões mais acesas?
CF: Sim, de certa forma, tive comentários mais distorcidos, perguntas de reação ao que escrevia. Mas, sempre muito positivo.
É um livro com alguma teologia, sem presunção, no sentido doutrinário. Com fácil acesso a principiantes. Muitas vezes termino os pensamentos, com uma breve oração, com uma intenção primordial de ser acessível a todos. E depois percebia que a abordagem das pessoas revelava pouco conhecimento, e que o blogue podia ser útil como evangelismo, trocando a Bíblia por “miúdos”. Algumas diziam até que usavam depois para a Catequese. Eu e a equipa que escrevíamos no blogue, só pretendíamos apresentar a Bíblia.
Qualquer pessoa, sem conhecer nada da Bíblia, pode ler bem o livro. Acho que é um livro evangelístico, ou seja, para quem quer conhecer a Bíblia.
B: Embora com perguntas e respostas, pode-se dizer que se trata de um livro de meditações, um manual para ensino, um devocional? Como o caracteriza?
CF: Eu diria que é um livro para leigos. Tecnicamente, chamar-lhe-ia narrativa teológica. Ou devocional. Pessoalmente, não gosto da palavra “devocional”, pois pode dar ideia de “auto-ajuda”. A construção realmente, é do tipo devocional. Tem características de devocional: curto, muito direto, sem grande profundidade, salvo algumas exceções.
Em termos literários, quem o ler, pode chamar-lhe um devocional.
B: O que pretende transmitir aos seus leitores?
CF: Não é um livro para pastores, ou mais eruditos na Bíblia. Fico contente, pensando que seja um livro para crentes, pois o nosso meio de promoção da literatura é restrito. O público é limitado. Acredito que vá entrar num filão de aceitação. É a necessidade que o nosso povo precisa.
A teologia está toda escrita. Tudo o que é profundo, exaustivo, já está feito. Em inglês, francês, alemão. No entanto, para nós, o público é reduzido. É um livro para ajudar as pessoas na interpretação dos textos, dentro na nossa perspetiva, da nossa cultura como portugueses. Esta análise, existe no Brasil, embora num contexto diferente. Temos no idioma, mas não temos na cultura. Acho que este livro, em português, vai de encontro ao crente da igreja.
B: A terminar, valeu a pena?
CF: Isto é diferente da minha experiência. Tenho muito trabalho desenvolvido, mas é material académico, para o ensino. O blogue obrigou-me a despir do que sou, um teólogo!