TRADUZIDO E ANOTADO POR THOMAS MERTON
Neste livro curto, claro e conciso, Jean-Baptiste Chautard e Thomas Merton falam da importância de possuirmos um carácter simples e humilde e de como esse é um principio fundamental para a Ordem Cisterciense de Estrita Observância.
“PORQUÊ LER UM LIVRO DE MONGES?”, o leitor poderá estar a pensar. A pergunta parece fazer sentido se o leitor não está de forma nenhuma ligado à vida de monge, ou à Igreja Católica sequer. Porém é preciso ter em conta que o monge, embora vivendo numa realidade incomum para a maior parte dos crentes – ainda para mais quando o monge é um trapista, como Chautard e Merton – vive uma vida de completa abnegação de vontade própria em prol de um bem maior: Deus. É quase natural que um monge dedicado a buscar o Pai em todo o seu tempo eventualmente tenha algo a dizer sobre este tema.
Chautard não é exceção. Ao abade de Sept- Fons, monge da O. C. E. O. e autor de L’Âme de Tout Apostolat (“A Alma de Todo Apostolado”), foi-lhe pedido que escrevesse um texto de encorajamento a freiras que tinham ingressado recentemente na rigorosíssima Ordem. Chautard respondeu-lhes com a obra que precisavam: “O Espírito de Simplicidade”.
Em poucas páginas, Chautard explica a relevância do rigor e da humildade característicos dos Trapistas (outro nome para os monges da O. C. E. O., proveniente da Abadia de La Trappe) na caminhada com Deus e na identidade da própria ordem monástica. Ele refere muitas vezes a Cîteaux, berço da Ordem Cisterciense, na sua exortação a uma vida de simplicidade: “O espírito de Cîteaux é um espírito de simplicidade: isto é, um espírito de sinceridade, de verdade.” Chautard reflete também nos exemplos de Bernardo de Claraval e Bento de Núrsia, modelos de uma vida humilde e devota à vontade de Deus; também menciona constantemente documentos essenciais para a formação e manutenção de uma vida monástica em torno do conceito de simplicidade, como o Exordium Parvum, que ele parece atribuir a Stephen Harding, também ele um monge Cisterciense.
Para Chautard, simplicidade é a chave para uma vida em conformidade com o querer de Deus. Ao abordar os costumes da Regra de Cister original, Chautard realça a forma como a humildade e a frugalidade são necessárias para melhor percebermos a nossa condição perante Deus. O monge defende que a simplicidade tem que vir de dentro dos nossos corações antes que produza efeito no nosso exterior: “O amor é o poder que concretiza a união. Produz primeiramente uma união na nossa alma, e em seguida torna a nossa alma num mesmo espírito com o Senhor.”
ARTIGO RELACIONADO: O DOUTOR MELÍFLUO
Thomas Merton complementa o texto de Chautard com a sua análise, providenciando numerosos excertos de Bernardo de Claraval para melhor entendermos o pensamento do Abade de Sept-Fons. A partir dos escritos de S. Bernardo, Merton afirma que a simplicidade é uma característica fundamental do crente e que resulta da sobreposição da vontade de Deus no nosso querer. O objetivo de uma vida humilde e abstémica é a união com Deus, algo que está dependente da graça do Senhor, mas para a qual somos preparados quando o espírito de simplicidade habita em nós.
Neste mundo cada vez mais focado no consumismo e nos interesses pessoais, O Espírito de Simplicidade mantém-se atual mesmo depois de quase noventa anos desde que foi escrito por Chautard. A obra é uma lufada de ar fresco que nos desafia a redirecionarmos os nossos objetivos e a adotarmos um estilo de vida que nos aproxima mais e mais da natureza de Deus.
THE SPIRIT OF SIMPLICITY, DE JEAN-BAPTISTE CHAUTARD. PUBLICADO POR AVE MARIA PRESS, NOTRE DAME, EUA