INSPIRAÇÃO

INTERROMPENDO O CICLO DESTRUTIVO DAS LEMBRANÇAS DOLOROSAS
<body> <table border="0" width="180" cellspacing="0" cellpadding="0"> <tr> <td width="180" align="left" colspan="2" valign="bottom"> <p style="margin-top: 0; margin-bottom: 0px"><font face="Montserrat" size="1">TÍTULO</font></td> </tr> <tr> <td width="180" align="left" colspan="2" valign="top"> <p style="margin-top: -2px; margin-bottom: 2px"><b> <font face="Montserrat" size="2">O FIM DA MEMÓRIA</font></b></td> </tr> <tr> <td width="180" align="left" colspan="2"> <font face="Montserrat" size="1">AUTOR</font></td> </tr> <tr> <td width="180" align="left" colspan="2"> <p style="margin-top: -2px; margin-bottom: 2px"><b> <font face="Montserrat" size="2">MIROSLAV VOLF</font></b></td> </tr> </table> </body>

Miroslav Volf, um dos mais conceituados teólogos dos nossos tempos, traz uma mensagem de perdão e reconciliação bastante pertinente para os dias de hoje. Com base nas suas experiências na ex-Jugoslávia, Volf debate o apego das pessoas às suas recordações, especialmente as mais dolorosas, e propõe uma forma de encontrar paz e pôr um “fim à memória”, por assim dizer.

EXISTE UMA EXPRESSÃO intimamente associada aos acontecimentos do 11 de Setembro: “Never Forget.” Nunca se esqueçam. (uma outra variante é “Nunca nos esqueceremos”). A tragédia que abateu os Estados Unidos naquele dia fatídico foi tal que os cidadãos americanos, e de certa forma o mundo inteiro, se recusam a deixar que a sua memória se apague, mesmo que seja a memória de algo tão doloroso. Após esse dia foram construídos memoriais e tomadas medidas para que um ato de terrorismo como aquele nunca mais voltasse a acontecer. O próprio dia 11 de Setembro tornou-se num dia oficial de luto (Patriot Day). Duvido que assim alguém se pudesse esquecer do que aconteceu, mesmo que quisesse esquecer.
Contudo, há uma questão que passa quase despercebida com toda esta ênfase em não esquecer: Porquê não esquecer? Porquê continuar a relembrar um evento tão amargo e doloroso para nós? Qual é o propósito final de manter viva esta memória nefasta? Será simplesmente lembrar os que morreram? Será perdoar esta ofensa insólita? Ou será perpetuar a violência e o medo? Enquanto que a vasta maioria das pessoas concorda que não devemos esquecer uma atrocidade tão grave, as opiniões não são tão unânimes no que toca ao motivo de não esquecer.
Esta é uma das razões pelas quais muitas partes do mundo enfrentam uma crise social e política nos dias de hoje: ex-Jugoslavos que não se esqueceram das atrocidades dos anos 90, afro-americanos que não se esqueceram dos tempos de segregação, irlandeses que não se esqueceram dos confrontos sangrentos entre católicos e protestantes, judeus que não se esqueceram do terror do Holocausto, e por aí fora. Ninguém se atreve a esquecer.
Miroslav Volf não é alheio à tragédia. Também ele passou por momentos muito duros na sua vida, e este livro é em parte baseado numa das piores alturas da sua vida. Durante o regime comunista da Jugoslávia, o teólogo foi chamado ao serviço militar, onde passou um ano a ser interrogado incessantemente na base de Mostar. Foi uma das experiencias mais marcantes da vida do teólogo croata, cujas ligações à religião e à América capitalista o tornaram num suspeito de espionagem e subversão, e consequentemente no alvo de “conversas” extensas e desumanas com um dos oficiais ex-Jugoslavos. Volf conta neste livro a forma como o capitão lhe infernizou a vida durante aquele ano, minando a confiança de Volf nos seus camaradas na busca de provas que pudessem incriminar o teólogo.
Mesmo assim, O Fim da Memória não é apenas um relato do tormento que Volf passou em Mostar; é o cessar absoluto desse tormento. Embora a experiência tenha durado apenas um ano, a sua lembrança persiste no coração do teólogo desde então, e ele reconhece que ela o mudou para sempre. Volf admite a sua dificuldade em seguir em frente, em perdoar e se reconciliar com a memória do capitão que o marcou de forma indelével – mas reconhece que esse é um passo inevitável para a sua felicidade e a sua caminhada com Cristo, e partilha com o leitor tudo o que sabe sobre saber lembrar neste livro.
Ciente de que “é tão fácil o escudo protetor da memória, transformar-se em uma espada de violência”, o teólogo afirma que abandonar as memórias das injustiças sofridas é por vezes “salutar” e essencial ao processo de redenção. Ele enfatiza o papel da não-lembrança voluntária – a memória não é apagada, mas permanece ignorada pelo nosso consciente – como um instrumento vital de reconciliação e um método muito similar ao do juízo de Deus, que conhece os pecados do seu povo mas não se lembrará mais deles (Jer. 31:34).
O Fim da Memória não é exatamente simples de compreender. A interpretação do tema pode ser algo fatigante, e a tradução para português do Brasil não facilita; porém a sua mensagem de perdão e amor no que toca a saber lembrar as injustiças não tem igual. É um livro que o mundo inteiro precisa de ler e deixar que o seu conteúdo o ensine a dar valor ao poder da graça e da reconciliação.


O FIM DA MEMÓRIA, DE MIROSLAV VOLF. PUBLICADO POR EDITORA MUNDO CRISTÃO, SÃO PAULO

VOLF E…
A LIBERDADE CRISTÃ

Uma das inspirações de Volf na realização desta obra foi o tratado de Martinho Lutero que a Biblion traduziu em comemoração dos 500 anos de Reforma Protestante. Volf aborda A Liberdade Cristã nos capítulos finais do livro, reconhecendo de forma muito satisfatória como Lutero encarava a redenção e o estatuto do cristão em Cristo e para com o próximo.
O teólogo croata reflete na importância do cristão viver pela fé em Cristo – não para si mesmo, mas para os outros, por amor. Ele examina também como Deus é parte integral da identidade do cristão, um tema intimamente relacionado com o nosso artigo sobre o livro “All Together Different” (Ler artigo).
A nossa versão de A Liberdade Cristã de Martinho Lutero pode ser adquirida (aqui) em formato impresso, PDF ou eBook.