Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…
mas será que o louvor também muda? É uma
questão que passa despercebida até o crente
ser confrontado com a variedade de formas em que o
louvor é realizado nas igrejas, desde o tradicional cante
a cappella até a espetáculos de som e luzes dignos de uma
produção televisiva. Ao refletir na sua vasta experiência
em dirigir louvor, Manuel Luz oferece-nos uma perspetiva
sincera e revitalizante do louvor – um louvor “honesto”
para com Deus.

Lembro-me que num dos ensaios do grupo de louvor d’A Casa da Cidade, um dos líderes do louvor colocou ao resto do grupo a seguinte questão: “Para quem é que tocamos e cantamos?” A pergunta apanho-me completamente de surpresa. Respondi, quase que por instinto, que era para o resto da congregação que estávamos ali; afinal, cabe ao grupo de louvor guiar os outros crentes em cântico e celebração no pouco tempo que temos para louvar a Deus durante a comunhão. Claro que engoli em seco a minha resposta irrefletida quando fui relembrado de quem realmente era a nossa “audiência” – Deus. Ao citar Kierkegaard, o líder de louvor fez-me ver que toda a congregação une-se para adorar o Senhor. Ele é a verdadeira audiência, a plateia, o único ser digno de adoração e louvor – quem se senta em redor do palco faz tanto parte da celebração como quem está em cima dele. Trata-se de um conceito simples, mas facilmente ignorado quando nos deixamos  levar pelo narcisismo subtil dos nossos dias.
É por esta razão que a obra de Manuel Luz não podia vir em melhor altura. O líder de louvor norte-americano conta as suas experiências e fala da sua definição de louvor “honesto”. Para Luz, a adoração não é apenas um ato, mas sim uma atitude contínua que exige humildade e fé numa era de orgulho e ceticismo. A sua mensagem de transparência e consistência aplica-se a todo o crente que busca um relacionamento genuíno e robusto com Deus, transcendendo doutrinas, denominações e formas de adorar em comunhão.
Manuel Luz reflete na natureza singular do ser humano para mostrar o quão importante é o louvor autêntico e genuíno que promove com esta obra: um ser humano feito à imagem do seu Criador procura expressar-se de maneiras criativas, e o louvor não foge à regra – se há algo que a diversidade de adoração encontrada nas muitas denominações denota é a capacidade imaginativa e inovadora do Corpo de Cristo. No entanto, a corrupção da natureza humana pelo pecado do orgulho é um obstáculo quase incontornável ao louvor “honesto”, uma vez que facilmente procuramos a nossa própria glorificação quando devíamos procurar glorificar o único ser digno de louvor. Este orgulho infiltra-se de forma ainda mais profunda e imperceptível na nossa cultura individualista, onde imperam as aparências e a gratificação instantânea. Perante estas condições, o autor exorta-nos a tomar uma atitude contranatura de viver para quem louvamos, aproveitando cada oportunidade para sermos exemplos de Cristo na vida do próximo.
Honest Worship é uma obra concisa que nos convida a encarar o louvor como ele deve ser: uma reflexão do carácter de Cristo em todo o momento. O livro está feito especificamente para que o leitor medite no seu conteúdo, com um desafio pessoal no fim de cada capítulo e uma secção de perguntas para pequenos grupos que o motivam a adotar esta nova forma de pensar e agir – uma filosofia de abnegação em prol do Criador que, por sua vez, nos imbui com a capacidade de o louvar.

Manuel Luz – INTERVARSITY PRESS


POR DANIEL GOMES