BY DANIEL T. GOMES

UM RECONTAR ÉPICO DE UMA LENDA ÉPICA

O reconto épico da lenda do Rei Artur na forma
de Le Morte d’Arthur imortalizou não só o seu
autor, mas até a própria lenda de Artur e dos
seus valentes cavaleiros da Távola Redonda. Contém tudo
o que um grande livro de ficção deve ter – aventura, amor,
cavalheirismo, perigo, traição e uma pitada de magia – e
como tal, a Biblion orgulha-se de apresentar um dos
primeiros e melhores livros impressos na Grã-Bretanha.

Voltemos pois até um lugar de reis e rainhas, de grandes batalhas e festas alegres, de cavaleiros valorosos e astutos, de amantes fieis e manipuladores. Voltemos a Camelot. Voltemos ao tempo do Rei Artur.
Le Morte d’Arthur é um relato valiosíssimo das aventuras do Rei Artur e dos seus cavaleiros leais, escrito por um misterioso Thomas Malory e publicado depois da morte do seu autor pelo célebre editor William Caxton em 1485. Com uma quantidade excecional de detalhe, a obra-prima de Malory atrai o leitor a uma era mítica, onde a fantasia e a historicidade se misturam para produzir uma obra magnífica de ficção medieval.
Nesta longa compilação de contos e aventuras, nós assistimos à ascensão e queda do Rei Artur e tudo o que se passa entre as duas. Malory descreve inúmeros eventos que tornaram a lenda de Artur tão icónica, incluindo a história de como Artur tirou a espada Excalibur da pedra em que se encontrava inserida, o caso de Guinevere com Lancelote e a busca do Santo Graal. Embora muito do livro se concentre no mítico Rei de Camelot, Malory escreve extensivamente tanto sobre os personagens principais como os secundários; isto aplica-se a muitos dos cavaleiros de Artur que têm um papel mais humilde na corte do Rei mas que ainda assim se encontram bem desenvolvidos. As suas aventuras são cruciais no desenrolar do enredo, que culmina numa grande batalha entre Artur e o seu “sobrinho,” o usurpador Mordred.

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Apesar dos seus muitos anos, Le Morte d’Arthur continua a ser uma obra influente e uma das mais conceituadas fontes sobre o Rei Artur. Ela moldou a nossa perceção das aventuras lendárias em volta dos Cavaleiros da Távola Redonda e do seu rei, e até um certo ponto, impactou a ficção histórica e a literatura de fantasia de uma forma irreplicável. É verdade que o livro não envelheceu muito bem – a sua cadência e as suas raízes no Inglês Médio colaboram para que a obra pareça insípida ao leitor contemporâneo – mas com a mentalidade correta, o leitor pode desfrutar do legado de Malory e encará-lo como o clássico de literatura medieval que realmente é.

 


CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Um dos temas mais persistentes na obra de Malory Le Morte d’Arthur é a
humanidade dos seus personagens. Embora eles sejam nobres chamados a
honrar os mais altos critérios morais, os cavaleiros e as damas do reino – incluindo
o venerável Rei Artur – continuam a ser humanos, propensos a agir em prol
dos seus instintos e sentimentos.

Mas estas ações não ficam impunes, independentemente de quem as comete.
A obra-prima de Malory é formada pelas consequências das transgressões,
e até os mais puros e cavalheirescos não escapam à regra. O caso entre
Guinevere e Lancelote cria um conflito catastrófico entre o cavaleiro e o rei; a
paixão de Merlin pela Dama do Lago leva-o a ficar preso debaixo de uma rocha.
Talvez o melhor exemplo é mesmo o do Rei Artur, cujo incesto acidental
com a sua meia-irmã Morgause leva ao nascimento de Mordred. Artur tenta
livrar-se do bebé ao estilo de Herodes, mas Mordred sobrevive e volta muitos
anos mais tarde, infiltrando-se na corte de Artur e eventualmente usurpando
o trono do seu pai. No fim de contas, Mordred é a ruína de Artur, uma vez
que os dois se confrontam numa batalha final de proporções épicas. Artur
mata o seu filho, mas não sem este primeiro lhe ferir de forma letal.

Causas e consequências são as tecelãs da tapeçaria de Malory, e elas fizeram
realmente um grande trabalho.