João Martins entrevistado por Paulo Sérgio Gomes

 

Gosta de ler, de ser desafiado por um livro que o incomode, que o leia. Ou vários, pois não consegue ler apenas um. Assíduo promotor de hábitos de leitura, defende que somos o que lemos.


João Martins é casado há 30 anos com Isabel Martins. É pai de três filhos – Tiago, Marcos e João – e duas noras – Miriam e Naty (sendo que a terceira nora vem a caminho, a Laura) – e avô de duas preciosidades – a Graça e o Tomé.
A sua vida enquanto pastor, psicólogo, gestor social e desenhador-projetista ainda abre espaço para a mentoria de líderes e ministérios de liderança. É conhecido por ser um excelente orador, com uma vasta experiência em Portugal e além fronteiras.
Dedicou vinte e quatro anos ao Desafio Jovem (organização cristã de apoio à recuperação de toxicodependentes), vinte dos quais assumindo a responsabilidade da direção desta Instituição e desempenhando funções a nível internacional. Atualmente é o Pastor principal da Igreja “A Casa Da Cidade”, em Lisboa.
Num dos intervalos da “roda-viva” que é a sua vida, deu-nos o privilégio de participar nesta entrevista, marcando assim o lançamento da BIBLION.

BIBLION: Gosta de ler. Pode-se dizer que é um ávido leitor de livros?
JOÃO MARTINS: Ler é das coisas que mais gosto de fazer. Nunca consigo ler só um livro. Nesta altura estou com alguns livros na minha mesa-de-cabeceira, outros na secretária, alguns na mala… Quando faço uma mala para viajar, independentemente do propósito da mesma, para além da escolha de roupa a levar há a preocupação de escolher os livros que me farão companhia. Isto porque muitas vezes é isso que eles são… excelentes companheiros de jornada.

B: O que o prende a um livro? O que é um bom livro, para si?
JM: Há vários fatores que me prendem a um livro. Desde logo o meu apetite. Os livros são como refeições. Nem sempre nos apetece o mesmo e por vezes não sabemos o que nos apetece… mas sabemos que precisamos de algo que nos satisfaça. Gosto do que preciso para o momento que estou a viver. Gosto de livros que levantem questões, mais do que aqueles que se propõem ser manuais de instrução. Gosto de autores vulneráveis. Gosto de uma boa biografia. Gosto de ler bom português. Gosto que o livro me interpele, e me incomode e desafie… Gosto de um livro que me leia…

B: Como Pastor, que influência têm os livros nas suas mensagens, no seu ensino?
JM: Nós somos muito o que lemos. E, sem dúvida, a leitura está em muitos aspetos presente naquilo que partilho e ensino. Há livros que marcaram muito a minha forma de pensar e ver o mundo… Ler, é muitas vezes viajar sem sair do local onde estamos com o livro… Eu viajei muito. Estive em muitos locais do mundo, diferentes culturas e maneiras de estar e pensar de forma literal. Mas estive em muito mais locais à medida que um livro me transportava para diferentes cenários. Tudo isso afeta quem somos, como pensamos e aquilo que partilhamos. Sem dúvida.

B: Na sua família, a leitura fez parte do desenvolvimento dos seus 3 filhos. Que conselho dá aos pais para iniciarem hábitos de leitura aos seus filhos? Quando devem as crianças começar a tomar contacto com livros/literatura?
JM: As crianças devem começar a ter contacto com livros assim que tenham a habilidade de puderem segurá-los nas mãos. Foi isso que fizemos com os nossos filhos. Os livros sempre fizeram parte das ofertas e prendas que lhes dávamos. Desde pequenos o livro foi um instrumento de ligação entre nós. Quando os pais pegam num livro e o usam para dialogar, conversar com os filhos contando as histórias nele contidas, estamos a dar oportunidade que o livro faça parte dos nossos relacionamentos e conquistem um lugar importante na vida das nossas crianças. Mas parece-me que nesse sentido, como noutros, o que mais impacta as crianças é elas verem-nos ler.

B: No seu ministério pastoral, é incansável na divulgação de literatura edificante para quem o ouve. Acredita que a leitura, neste caso de livros de inspiração cristã, é um complemento importante na vida das pessoas?
JM: Sem dúvida. Falamos muito de dietas. Produtos que devemos e não devemos ingerir em função da nossa saúde e bem-estar. Mas tantas vezes esquecemos a dieta das palavras. O que é que estamos a ingerir a este nível? Alimentamo-nos do quê? Acredito que, em grande parte, somos o que lemos, como já tinha mencionado.

B: E quanto a autores. Quais lhe servem de inspiração, no ministério ou na vida pessoal?
JM: Tantos! Caio Fábio, Philip Yancey, Ed René Kivitz, Tomás Halík, Eugene Peterson, Henri Nouwen, Brennan Manning, John Stott, N.T. Wright, Bonhoeffer… Apenas alguns, mas estes dos mais marcantes.

B: No quotidiano, a leitura faz parte da sua rotina. Varia o que lê consoante a fase do dia?
JM: Não. O que leio não está dependente da fase do dia. Está antes dependente do que preciso e tenho falta, ou daquilo que desperta curiosidade e tenho interesse por saber mais… Mas a Bíblia ocupa um lugar central em tudo o que leio e em diferentes alturas do dia e da vida…

B: Que livros está a ler?
JM: São tantos… “Discipulado”, de Bonhoeffer; “A Vida Crucificada”, de A.W. Tozer; uma biografia de Francisco de Assis; “A Linguagem de Deus”, de Eugene Peterson; entre outros…

B: Recentemente, leu algo que o tenha impactado? De que forma, e o que pode partilhar sobre essa experiência?
JM: Mais recentemente, a biografia de Francisco de Assis, que estou a terminar. Impressionante, a forma como algumas pessoas viveram a sua fé, o impacto que isso tem na nossa vida, e forma de a ver e viver.

B: Selecione 3 livros, indispensáveis na nossa estante, e porquê?
JM: Bíblia – O pão de cada dia…
“Maravilhosa Graça”, de Philip Yancey – A espantosa essência de Deus…
“Perfil de Três Reis”, de Gene Edwards – Atitude a ter face aos diferentes momentos e fases na vida…
“Somos todos (a)normais”, de John Ortberg – Aprender a conviver com todos…

B: Já tem livros publicados. Algum projeto na gaveta?
JM: Tenho vergonha de lhes chamar livros. São exercícios escritos de “coisas” que algures dissemos e alguém “transcreveu”. Quem os fez foram pessoas queridas que comigo trabalharam… a Carla e a Eunice. Não tenho nenhum projeto na gaveta. Talvez porque considero que não sei escrever como devia para o fazer.

B: 3 Perguntas de resposta rápida. Livro físico, ou e-book?
JM: Sem dúvida nenhuma, O LIVRO FÍSICO!
B: Que título daria ao livro da sua vida/Ministério?
JM: “ O inesperado…”
B: Autor que gostaria de entrevistar?
JM: Já desejei muitas vezes entrevistar/conhecer alguns autores. Mas, nesta altura, gostaria de entrevistar Henri Nouwen. Infelizmente, já não é possível pois já partiu.

B: Tem uma “wish-list”? Livros que gostaria de ler, mas ainda não teve oportunidade (novos, esgotados, indisponíveis em Portugal)?
JM: Sim. Infelizmente, os livros são caros e temos que estabelecer prioridades. Eis alguns: Islão e o Ocidente, A Grande Discórdia; Islão: Passado, Presente e Futuro, de Hans Kung; O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa; Disarming Scripture, de Derek Flood; Paulo, de N.T. Wright; entre outros, na minha lista de compras. São mais de vinte…

B: A BIBLION está a dar os primeiros passos. Tem alguma sugestão de livros, conteúdos ou iniciativas que gostaria de ver publicadas em próximas edições?
JM: Isso, eu falo com o Paulo Sérgio [editor da revista].