O HOMEM QUE OUSOU CONFIAR NAS PROMESSAS DE DEUS
No Séc. XIX, este homem de fé, acolheu mais de 10.000 orfãos e crianças
abandonadas, sem nunca ter pedido apoio financeiro, mas dependendo
apenas da provisão de Deus.
A vida boémia fez parte dos primeiros anos de George Müller, um estudante problemático, com uma vida familiar disfuncional. A falta de autoridade parental, levou-o à marginalidade. Enquanto a mãe dava o último suspiro, com 14 anos, jogava às cartas e embebedava-se, sem saber o que lhe tinha acontecido.
POR INFLUÊNCIA de um amigo, Beta, que o levou a um estudo bíblico, converteu-se e tornou-se um dedicado estudioso da Palavra de Deus, ambicionando mesmo dedicar-se ao campo missionário. Por cinco vezes tentou, sem que Deus alguma vez o permitisse. Guardada estava outra grandiosa missão.
Devido a essa atração por servir em missão, ficou impressionado
com a história de um missionário britânico, dentista de profissão,
que largou a vida estável e abastada, partido com a família rumo
à Pérsia (atual Irão), em completa dependência de Deus, sem
qualquer sustento garantido, confiando apenas na ajuda divina para
suprir as necessidades quotidianas. Esse testemunho fez crescer em
si enorme convicção de como entendia ser a sua forma de viver,
sem nada pedir a homens, e colocar tudo perante Deus em oração.
O início da sua carreira levou-o a Inglaterra, onde começou a
trabalhar na Sociedade Londrina para promoção do Cristianismo
entre os Judeus, com o intuito de se preparar para o que sentia ser
o seu chamado – ser missionário entre os Judeus na Europa
de Leste. Chegou a desenvolver atividade evangelística entre a
comunidade judia de Londres, mas buscava uma dependência
maior de Deus, tendo decidido abdicar do seu salário, o que lhe foi
negado superiormente.
Optou, então, por prosseguir o seu trabalho pastoral numa
pequena igreja do Sul de Inglaterra. Casualmente, cruzou-se com
uma governanta, Mary Groves, irmã do famoso missionário que
tanto impactou a vida de George, e com quem veio a casar. Em
pouco tempo, o seu casamento era um exemplo de uma vivência
em total dependência da provisão diária de Deus.
Poucos anos mais tarde, não sem que Mary contestasse tal
mudança, pois esperava a primeira filha do casal – Lídia, Müller
sentiu que Deus o queria a trabalhar na cidade costeira de Bristol.
As condições que foram encontrar ali eram de extrema adversidade.
A epidemia de cólera que ele havia presenciado em Londres, dois
anos antes, já chegara à cidade, eram muitos os doentes nas ruas,
num ambiente propício à propagação da doença.
Apesar de tudo, com a ajuda do amigo Henry Craik, fundou a
Capela Betesda, em Agosto de 1832, enquanto ainda pastoreavam
outra congregação local. Ao primeiro sermão assistiram 7 pessoas,
mas Müller não desanimou. Enquanto o ministério pastoral se
desenvolvia, os dois obreiros dedicaram-se a visitar e cuidar dos
doentes na cidade. De todos os membros da igreja, apenas um
morreu. Era o começo de uma permanência de 66 anos, onde
realizou um trabalho que o notabilizou como “Müller de Bristol”.
Apesar do convite ser tentador, Müller e Craik recusaram-se a
viajar até à Pérsia para ali trabalharem como missionários. Ver as
condições nas ruas de Bristol, com imensos orfãos sem abrigo nem
proteção, tocou fundo no coração de George Müller, e ele decidiu
agir. Primeiramente, foi criado o Instituto de Conhecimento das Escrituras,
com vários objetivos: suportar missionários no estrangeiro;
proporcionar uma fonte de literatura e Bíblias de baixo custo; abrir e
sustentar estabelecimentos de ensino, com fundamento cristão, para
adultos e crianças; estabelecer casas de acolhimento para orfãos, etc.
Diariamente, pela manhã, recolhia as crianças que vagueavam
pelas ruas, servia-lhes uma pequena refeição e ensinava-as a ler a
Bíblia, ou lia para elas. Foi o embrião de um movimento de grande
transformação nas vidas de milhares de orfãos, dezassete mil até
hoje, que foram ali acolhidos pela iniciativa de George Müller.
Algum tempo mais tarde, ao rever a biografia de A.H. Franke,
seu conterrâneo germânico, tão inspiradora no seu propósito de
levar uma vida na total dependência de Deus, que se formou a ideia
de, à semelhança do que Franke fez, criar um orfanato para crianças
desamparadas e sem instrução. A sua intenção era provar que podia
lançar-se nesse empreendimento sem solicitar quaisquer apoios,
apenas confiar na provisão de Deus como resultado da oração e fé.
Mediante uma sábia planificação, Müller pensou em todos os
pormenores e deu-se conta de que iria necessitar de mil libras para
tamanho empreendimento. Colocou, em oração, todas as faltas a
suprir, incluindo o montante para avançar com o projeto e manter
as crianças, bem como o pessoal auxiliar. Em cinco meses, tudo
estava pronto na Wilson Street, no centro de Bristol, onde foi
arrendada uma casa para acolher as primeiras 30 meninas. Depois
de um começo árduo, Deus proveu, e antes ainda do primeiro
relatório já George avançava para o terceiro orfanato.
No entanto, alguns anos depois, as condições para centenas de
crianças tornaram-se limitadas, e depois de receber uma queixa da
vizinhança devido ao excessivo barulho, Müller dedicou-se à oração
e sentiu que Deus o levou a idealizar a construção de um edifício
que albergasse as crianças, num terreno espaçoso, fora da cidade.
Apesar de ter um orçamento elevado, através da oração conseguiu
toda a verba, e só então avançou com a construção. George Müller
nunca pediu um empréstimo, nem teve dívidas.
Até ao fim dos seus dias, com 92 anos, George Müller dedicouse
ainda ao trabalho missionário por todo o mundo, pregando a
Palavra de Deus, à administração dos orfanatos e do Instituto e à
Capela Betesda, onde, nos últimos anos, a conselho médico, reduziu
a atividade, mantendo apenas o sermão dominical.
A história de vida de George Müller revela-nos um constante desenrolar
de episódios, que em momento algum o “Pai dos Orfãos”
deixou de duvidar que o socorro de Deus pela causa iria chegar em
devido tempo. Uma prova de que Müller tinha absoluta certeza da
provisão de Deus, teve lugar certa manhã. O dia nasceu sem que
houvesse o que dar de comer às crianças. George ordenou que todos
se sentassem à mesa, dando graças pelo que iriam comer, confiante
que Deus proveria a refeição como sempre aconteceu. Terminada
a oração, alguém bateu à porta. Um vendedor de leite danificou o
carro em frente ao orfanato, e toda a mercadoria se iria estragar até
o conserto estar terminado, pelo que resolveu oferecê-la aos orfãos.
Logo a seguir, aparece um padeiro. A fornada não havia saído com
a aparência exigida pelos clientes, e o patrão optou por presentear
as crianças, que certamente não se importariam com isso.
PAULO SÉRGIO GOMES