A vida de Martin Luther King Jr. confunde-se com a luta contra a
discriminação racial, que experimentou ainda em tenra idade. Embora
os pais tivessem transmitido valores exemplares de cidadania e dignidade,
o sistema vigente onde vivia, no Sul dos Estados Unidos, reprimia
a todo o custo a população Negra, e ele cedo se rebelou contra isso.
As restrições eram uma obsessão das autoridades. “Em Atlanta, uma criança negra não podia ir a nenhum parque. Eu não pude frequentar as chamadas escolas para brancos. (…) Não podia entrar num restaurante para comer um hambúrguer ou tomar um café. Havia um ou dois cinemas para Negros…” Pensava consigo mesmo, “Um dia destes vou pôr o corpo onde tenho o espírito”.
A formação de King deu-lhe oportunidade de evoluir a sua orientação intelectual, com alguns dos melhores professores, estudando correntes filosóficas, identificando-se com as teorias dos maiores líderes mundiais, preparando-se para uma função única na história da humanidade.
Passou as férias de Natal de 1949 a ler Karl Marx, tentando perceber a atração que o comunismo exercia sobre tanta gente, mas foi por Gandhi que ficou fascinado ao escutar o testemunho do Dr. Mordecai Johnson, acabado de regressar de uma viagem à Índia, onde falou sobre essa figura notável, cuja abordagem pacífica ao amor e à não-violência veio a servir de exemplo para a reforma social que há tanto tempo procurava implementar. “Gandhi foi provavelmente a primeira pessoa da história a elevar a ética de Jesus acima da mera interação entre indivíduos, fazendo dela uma poderosa e eficaz força social em larga escala. O amor, para Gandhi, era um potente instrumento de transformação social e coletiva.”
Mahatma Gandhi serviu de inspiração aos Negros de Montgomery a empreender um movimento social de grande dignidade. Enquanto Jesus os inspirou a servirem-se do amor como arma criativa nas ações de protesto, ao juntarem o método de não-violência de Gandhi à doutrina cristã do amor, conceberam a mais poderosa arma ao seu dispor na luta pela liberdade.
O Movimento de Montgomery desencadeia-se na sequência da recusa de Rosa Parks se levantar no autocarro para dar o seu lugar a um passageiro branco. Foi presa, e em sua defesa Martin Luther King acaba por proferir o discurso mais decisivo da sua vida. Ali teve início o processo mobilizador que viria, muitos anos e mortes depois, a culminar no fim da segregação racial.
O boicote aos autocarros de Montgomery (onde existia uma lei anti-boicote!), durou treze semanas, ao longo das quais, os seus habitantes Negros andavam a pé, sacrificialmente, sendo intimidados, perseguidos e presos por não utilizarem os transportes públicos. Arquitetando um engenhoso sistema de transportes alternativos e
improvisando, os aderentes ao boicote alimentaram a revolta até à vitória. No final de 1956, o Supremo Tribunal declara como sendo inconstitucionais as leis de segregação nos autocarros.
Com a sua ação na liderança do movimento, King começou a ser conhecido como “um negro novo e corajoso”. Montgomery contribuiu com uma nova arma para a revolução dos Negros, um instrumento social da resistência não-violenta. Revelou ao mundo uma pessoa com quem os Brancos tinham de contar e a quem tinham de respeitar, mesmo contrariados. Alguém que os Negros admiravam, que largou a “passividade paralisadora e complacência entorpecente”, emergindo com um novo sentido de dignidade e destino. O novo e corajoso Negro de Montgomery adquiriu uma nova determinação de alcançar a liberdade e a dignidade humana, apesar do elevado preço.
Segue-se, em 1960, o Movimento dos Sit-Ins nas cafetarias, uma galvanizante mobilização de estudantes Negros que alastrou às escolas e townships do Sul dos Estados Unidos, com a ocupação de cafetarias (“sit-ins”) e outras manifestações, que deram à América um exemplo brilhante de ação não-violenta, disciplinada e digna contra o sistema de segregação instituído.
Ao longo de mais de 400 páginas, o livro prossegue, baseado em textos e conteúdos originais, reais e verídicos, descrevendo minuciosamente os eventos marcantes no processo de luta pelos direitos civis da população negra, sob a liderança abnegada do Reverendo King. A narração das campanhas de Birmingham e Chicago, das Marchas de Selma e Washington, do envolvimento com Malcolm X e do Black Power, das conversas com Presidentes Americanos – Kennedy, Johnson, Nixon; episódios passados nas inúmeras passagens pela prisão; relatos da vida familiar, que apesar de limitados, eram fulcrais para a sua motivação. Até ao completo teor do seu derradeiro sermão, na véspera do seu assassinato, que aconteceu em Memphis, a 4 de Abril de 1968.
“Não sei o que vai acontecer, para mim já não importa, já cheguei ao cume da montanha, olhei lá de cima e vi a terra prometida. Pode ser que não a alcance convosco. Mas quero que saibais esta noite que o nosso povo há-de alcançar a terra prometida.” (p. 397, Martin Luther King, extraído do seu último sermão.)