UM OLHAR SURPREENDENTE E RECONFORTANTE SOBRE A MORTE E SOBRE MORRER

Vinte e cinco anos depois de ter abordado o assunto
pela primeira vez, Joni Eareckson Tada volta à
eutanásia como tema central desta edição atualizada
de When Is It Right to Die? (“Quando é [o momento]
certo de morrer?”). Sentiu necessidade de regressar ao
assunto, depois de conhecer o trágico caso de Nancy
Fitzmaurice, uma jovem inglesa de 12 anos a quem, por
ordem judicial, foi retirado o tubo de alimentação que a
mantinha viva. Ao fim de 14 dias, morreu… à fome!

Ao longo destes anos, e cada vez mais recentemente, Joni segue de perto qualquer história, iniciativa, sinal encetado por ativistas “pró-vida” ou os que defendem o “direito a suicídio assistido”, pois por trás está sempre uma família, como a sua. Apesar da paralisia, ela encontrou uma resposta que faz a vida valer a pena. E essa razão para este livro chama-se “Esperança”.
Mas, e porque não morrer? Joni aflora o tema pela perspetiva do ser humano que sofre. Quando é o tempo certo? “Não tens nada com isso!” “Quando a dor é insuportável!” “Quando é caro!” “Quando não se quer viver com limitações extremas.” “Quando é mais fácil morrer do que enfrentar a vida.”
Joni levanta a questão, e pelos casos expostos, e inerentes respostas, não se trata apenas de saber “quando”, mas quem quer morrer, como e porquê! Nota-se uma interpretação complexa no que concerne às distintas condições em que os doentes se encontram, embora se tenda a reduzir tudo a uma “situação terminal”. E nem sempre é assim.
Da desportista que não se vê confinada a uma vida de tetraplégica e, mesmo com o suporte do marido e filhos, decide não comer; ou da mulher ligada à máquina durante catorze anos, num impasse entre a sua família, que quer que ela permaneça viva, e o seu marido, que quer que se desligue a máquina. De que lado deve estar o poder de decisão? Quem se libertou da condição terminal “de dependência” – a mulher enferma ou o marido?
Com a sua longa experiência de sofrimento, de dependência, mas também de luta e inconformismo pela sua condição, Joni escalpeliza as inúmeras abordagens ao tema, seja a eutanásia “per si”, voluntária, involuntária, não-voluntária, suicídio assistido; assim como a “morte com dignidade”, o “direito a morrer”, a “qualidade de vida” e o valor relativo e absoluto; considerando até a observação do tema pela perspetiva de quem está de fora, mas comenta que as tendências correntes na sociedade é o peso dos influenciadores na opinião pública.

AS QUATRO PRINCIPAIS RAZÕES INVOCADAS AO SOLICITAR O SUICÍDIO ASSISTIDO
  • redução da capacidade para participar em atividades que tornam a vida desfrutável (96,2%)
  • perda de autonomia (92,4%)
  • perda de dignidade (75,4%)
  • sentimento de ser um fardo (48,1%)

Estas razões nada têm a ver com a dor de uma doença terminal.

O Dr. C. Everett Kopp explica a eutanásia desta forma: “Toda a celeuma à volta da eutanásia se resume a uma palavra: motivo. Se o motivo é aliviar o sofrimento administrando um medicamento, reduzindo a vida em meia-dúzia de horas, isso não é eutanásia. Mas sendo dado um medicamento para lhe reduzir o tempo de vida, isso é eutanásia”.
Mas nem só de desfechos finais trata o livro. Larry McAfee, engenheiro civil, foi vítima de um acidente de mota, ficando paralisado abaixo do pescoço e dependente de um ventilador para se manter vivo. Impedido de se mover para fora da enfermaria e impossibilitado de respirar autonomamente, Larry recorreu ao tribunal para poder desligar o ventilador e morrer. Embora não tenha hesitado em lhe escrever, poucos dias depois Joni leu nos jornais que o Juiz havia permitido a que Larry colocasse fim à sua vida.
No entanto, inexplicavelmente, Larry optou por não desligar a máquina de imediato, sendo transferido para outra instituição, acabando Joni por lhe perder o rasto. Alguns anos depois, para sua alegria, soube do seu paradeiro e entrou em contacto com ele. Trocaram breves palavras sobre a paralisia, e antes de terminar questionou-o sobre o que o fez voltar atrás na decisão de prosseguir com o suicídio assistido, o que o motivou a prosseguir vivendo.
A resposta teve algo de desconcertante: “Porque deixei de ser obrigado a viver numa instituição ou hospital. Agora vivo numa casa independente com mais 2 deficientes, sem pressão, estabelecendo o meu próprio horário. Enquanto não for forçado a viver sujeito às condições do Estado, assim a vida vale a pena ser vivida.” Perante tal postura positiva, Joni pediu-lhe um conselho para outros na mesma condição. Depois de uma pausa, medindo as palavras, disse: “Se uma pessoa, depois de anos a tentar sente que não aguenta mais, então acho que está no seu direito de… bem você sabe.” E, após um breve compasso, conclui “mas dir-lhes-ia «Não se precipitem em tomar decisões irrefletidas, mas  meditem bem. Não tentem corresponder à sociedade. Tomem todo o tempo necessário. Procurem orientação, não apenas de Deus, mas também da família e amigos.”
Viktor Frankl, autor de Men’s Search for Meaning (O Homem em busca de Significado), psiquiatra sobrevivente de Auschwitz confortou milhares em desespero. “O sofrimento pode ter um significado”.
Joni E. Tada faz um exaustivo trabalho de análise às múltiplas vertentes desta problemática. A diferença entre “estado vegetativo” e estado de “consciência mínima”, o que a Bíblia diz sobre a eutanásia e o morrer, o Juramento de Hipócrates, não deixando de contar com sábios comentários de autores cristãos como Metaxas ou J. I. Packer. When Is It Right to Die? é claramente uma obra essencial para todos os que procuram entender melhor este tema de um ponto de vista bíblico.

Joni Eareckson Tada – EDITORA ZONDERVAN


POR PAULO SÉRGIO GOMES