TRIBUTO A UM AUTOR EXCEPCIONAL
Grande mestre no estudo da Palavra de Deus, autor de A Mensagem, Eugene Peterson sonda a profunda sabedoria subjacente aos variados aspetos da linguagem usada por Jesus e nos dá conta disso neste excelente livro, A Linguagem de Deus.
COM TANTO ENSINO que transmitiu, Jesus não terá deixado nada escrito, só falou. Assim começa o autor, transportando-nos para uma dimensão da comunicação, seja falada, ou escrita, escrevendo o seguinte: “As palavras escritas, por mais importantes que sejam, são um passo gigantesco para longe da voz que fala. Deve-se fazer um esforço resoluto para ouvir a voz que fala, e para escutá-la, não apenas olhar para ela e estudar a palavra escrita.”
Adiante, Peterson descreve os diferentes tipos de comunicação utilizada por Deus para o nosso entendimento, sendo que a pregação é a linguagem que nos envolve pessoalmente com a ação de Deus no presente. Também o ensino foi amplamente usado por Jesus através de metáforas para interiorizar-nos a Sua verdade viva e multidimensional.
É também fundamental que pratiquemos o intercâmbio conversacional pela sua informalidade – em casa, à mesa, em família ou com amigos. Peterson dedica ainda uma parte considerável do livro à narrativa da viagem, contada no livro de Lucas, dando exemplos elucidativos como a hospitalidade samaritana, que se perpetuou no Médio Oriente ao longo dos séculos, e que ele próprio experimentou. Também influenciou a hospitalidade beneditina, alicerçada nos princípios da comunidade monástica do séc. IV, fundada por Bento, no Monte Cassano, em Itália, e que infiltrou em muitas comunidades de fé.
Através de três das parábolas de Jesus, Peterson explica como, a partir do grego, Lucas se salientou, usando a expressão “ánthrõpos tís”, que significa “um homem”. Esta expressão liga as três histórias de Jesus, nos capítulos 15 e 16, a história do filho pródigo, a história do gerente astuto e do fazendeiro rico, e a história de Lázaro e do rico.
Depois o autor parte para uma exposição completa sobre como as metáforas e as histórias caracterizam a linguagem de Jesus: uma linguagem sem formalidade nem abstrações, que dá margem à ambiguidade. Os que o seguem não apenas escutam e acompanham o que Ele diz, como também aprendem a comunicar como Ele o faz.
Passar das histórias de Jesus para as Suas orações requer cuidado pois é como passar de uma linguagem local, conforme as circunstâncias e acontecimentos, para Ele mesmo, a Sua Alma e Corpo. Na oração, a nossa primeira linguagem, o silêncio é indispensável, para O podermos escutar. Jesus ora connosco, e por nós, tal como fê-lo nos Seus últimos momentos de agonia.
Eugene Peterson expõe a oração de Jesus na Cruz, as suas últimas sete “palavras da cruz”. Sete orações e uma só frase. Nenhum dos Evangelhos as relata todas. Peterson optou por apresentá-las numa sequência harmoniosa, com uma coerência interior.
“Eu vim exatamente para isto: para esta hora (Jo 12:27)”. Como afirma o autor, a morte é a “razão” da vida de Jesus. Foi muito mais que uma morte. Depois de cessarem os sinais vitais de Jesus a salvação foi alcançada. Morrendo, de forma voluntária e sacrificial, deu-se pelos pecados deste mundo – a morte. Continua Peterson, “uma morte venceu a morte. Foi a morte da morte”.
As sete orações são metáforas, ainda que reais, que somos convidados a usar nas nossas orações quotidianas. Peterson socorre-se de Raymond Brown, grande estudioso sobre a derradeira etapa de Jesus na Cruz, revelando que Jesus ao terminar essa oração “curvou a cabeça e entregou o espírito”; justificando que o tenha feito àqueles que estavam perto da cruz, e que de certa forma incluirá quem hoje O segue.
Indispensável!