A FÉ CRISTÃ NUMA ERA DE INCERTEZA
Tomás Halík, sacerdote e teólogo checo premiado com o prémio Templeton, em 2014, esteve em Portugal no ano passado, pela mão da editora Paulinas. Recordamos duas passagens cheias de significado do seu livro A Noite do Confessor.
“Estou profundamente convencido de que não devemos ocultar as nossas crises. Não devemos escapar nem esquivarmo-nos delas. E também não devemos deixar que nos assustem. Só depois de termos passado por elas poderemos ser «remodelados» num estado de maior maturidade e sabedoria. Neste livro, gostaria de demonstrar que a crise no mundo à nossa volta, e também as «crises religiosas» […], são janelas imensas de oportunidade que Deus abre para nós. São desafios para nos «fazermos ao largo».
Considero o despertar dessa atitude frente à vida – não evitando as crises, mas tomando a nossa cruz – um dos mais valiosos contributos o Cristianismo. O Cristianismo não é sobretudo «um sistema de textos dogmáticos», mas um método [no grego, significa «um caminho»], um caminho, um itinerário. Seguindo o caminho percorrido por Aquele que não escapou da escuridão do Getsémani, de Sexta-feira Santa, nem da «descida aos infernos» de Sábado Santo.”
E sobre os conflitos globais, Halík escreve ainda algo que merece a nossa reflexão.
“A guerra santa não existe – só a paz é sagrada. Se toda a gente seguisse o princípio de «olho por olho», o mundo inteiro em breve estaria cego. Devemos quebrar de uma vez por todas a perigosa espiral da vingança e da retribuição. Se quisermos que o nosso mundo seja curado, já não nos podemos apoiar na lógica de «assim como tu me fizeste, também eu te faço a ti». Devemos aprender a lógica de «assim como Deus me fez, também eu te faço a ti» – o caminho do perdão e da reconciliação.”